Está nos jornais de hoje: 20 anos depois, os "cavalos corredores", reus no processo da chacina de Acari, vão finalmente a julgamento.
Vera de Acari, amiga querida, mãe guerreira, que perdeu a saúde e o muito pouco que tinha em busca do corpo da filha Cristiane, não está mais entre nos, para ver esse pouquinho de justiça sendo feita.
Durante muitos anos estivemos juntas, lado a lado, irmãs na dor maior que é a de perder um filho. Eu vi alguma justiça ser feita. Justiça capenga, mas a que era possível: Vera não viu nenhuma!Ela teve a filha, Cristiane, assassinada junto com outros jovens da comunidade de Acari, e lutou como lutou Antígona, pelo direito de enterrar seu corpo.
Ninguém que não tenha convivido com Vera poderá supor de quanta garra e de quanta força essa mulher foi capaz. Pobre, doente, vivia em romaria, cobrando investigação. Chegou a cavar, com as próprias mãos, cemitérios clandestinos, quando as autoridades se recusaram a fazê-lo.
Formava, junto com as mães dos outros jovens assassinados na mesma ocasião, o grupo que ficou conhecido como Mães de Acari.Lembro uma das vezes que vieram jantar aqui em casa, e me contavam, desesperadas, sobre a última descoberta da polícia: um sítio onde seus filhos teriam sido atirados aos leões criados ali, de modo a que nada restasse das vítimas
Vera se fazia querida onde chegasse. Sábia, generosa, solidária, conquistava a todos com sua fala emocionada e inteligente.
Será inesquecivel não só para quem compartilhou de sua luta, mas com certeza para todos os Ministros da Justiça que, ao longo desses anos, ocuparam o cargo e a receberam muitas vezes em seu gabinete.
Morreu carente de tudo, sem nenhuma assistência do Estado que tanto lhe devia. Ela não lutou por pensões, não lutou por mais nada: só queria enterrar sua filha! e não conseguiu! CLIQUE AQUI para ler a notícia